segunda-feira, 3 de maio de 2010

TERAPIA NUTRICIONAL NO DIABETES / CONTAGEM DE CARBOIDRATOS



TERAPIA NUTRICIONAL NO DIABETES / CONTAGEM DE CARBOIDRATOS


A Contagem de Carboidratos-C/CH, surgiu na Europa em 1935 e no Brasil passou a ser utilizada a partir de 1997. É uma ferramenta nutricional que utiliza a quantidade de carboidratos-CH em gramas dos alimentos e a relação entre o tempo gasto pelo organismo na metabolização dos macronutrientes( CH, proteínas-PTN e lipídeos-LIP ) e o nível de glicemia, com o objetivo de otimizar o controle glicêmico dos pacientes diabéticos com menores variações da glicemia pós-prandial.

Considerando que a maioria dos alimentos tem na sua composição macronutrientes e usando a pirâmide alimentar como base para o guia de do planejamento dietético, estabeleceu-se a seguinte C/CH com base na composição dos alimentos e o tempo de conversão gasto pelos macronutrientes em glicose, a saber: CH simples =15 min , CH complexos = 1 a 1,5 horas; PTN, 35 a 60% = 3 a 4 horas; LIP, só 10% são convertidos = 5 horas.

Segundo a Associação Americana de Diabetes-ADA, a recomendação de CH para pacientes diabéticos é de 50 a 60% do Valor Calórico Total-VET, contendo 21 a 30 gramas de fibras. As fibras solúveis ( pectina, beta-glucana, goma) são mais eficientes no controle glicêmico, visto que tem ação na glicemia pós-prandial e está ação também está relacionada com a maturação dos frutos, ou seja, quanto mais maduros, menor a ação das fibras solúveis. As fibras insolúveis ( celulose, hemicelulose e lignina, esta não é fibra mas tem ação orgânica similar) tem ação a longo prazo no controle dos lipídeos sanguíneos ( MELLO, LAAKSONEN,2009).
Na C/CH deve-se deduzir o teor de fibras para obtenção do teor de CH disponível no alimento( ex: alimento com 60gramas de CH e 12gramas de fibras = 48gramas de CH disponível.
A recomendação de PTN = 15 a 20% e de LIP = 30 % do VET, destes 30%, 10% de monosaturados, 10% de polinsaturados e 10% de saturados.

No planejamento dietético considera-se a composição do alimento em relação ao teor de CH e seus equivalentes, considerando que cada porção de amido ou fruta fornece 15 gramas de CH e a porção alimentos do grupo leite fornece 12 gramas de CH ( presença de lactose). Para tanto deve-se pesar ou medir os alimentos, utilizando as informações das embalagens ou as tabelas de referência.

O cálculo do VET pode de acordo com: FAO/OMS,1985 , método prático ( KRAUSE, 1979 ) ou ainda pelo Food and Nutrition Board - FNB ( KRAUSE, 1979 ). Para o cálculo do VET em diabéticos obesos, usar o peso ideal ( redução de 5 a 10% do peso atual ), ou reduzir 500 a 700kcal considerando o peso atual no cálculo. Obeso muito sedentário a redução calórica pode chegar a 1000kcal. Com definição do percentual calórico dos CH, define-se a quantidade em grama de CH, procede-se a C/CH por refeição para obtenção da quantidade de substituições.

Em diabéticos com controle alimentar exclusivo ou em uso de hipoglicemiantes orais, estimular a ingestão das mesmas quantidades de CH/refeição/horário.

Em terapia intensiva com múltiplas doses de insulina ( rápida ou ultra rápida ), as doses para cobrir os gramas de CH são denominados bolos de alimentação e devem ser administrados de acordo com a evolução das glicemias pós-prandiais, considerando para : adulto, 1UI de insulina rápida ( 30min a 1hora antes da refeição) ou ultra-rápida ( 15 min ou imediatamente após a refeição) cobre 15 gramas de CH ou uma substituição; criança e adolescente é 1UI para cada 20 a 30gramas de CH.

Em terapia com bomba de infusão, a C/CH é imperativa devido a precisão da liberação da insulina necessária nas 24 horas.
O fracionamento das refeições é fundamental em terapia convencional e múltiplas doses com insulina NPH pelo risco de hipoglicemia, o que não ocorre em uso de glargina e bomba de infusão.

O uso de açúcar ou doces, deve ser em quantidade igual a 10% dos CH totais e se o controle glicêmico estiver perfeito.

Nos casos de hipoglicemia ( glicemia < 60mg/dl ), recomendar a ingestão de 15gramas de CH simples = 1 colher de sopa de açúcar; 150ml de refrigerante; 150ml de suco de laranja; ou 03 balas de caramelo; verificar a glicemia após 15 min, se for < 70mg/dl repetir a ingestão.

 Em relação as PTN: um bife médio de carne bovina magra de 90gramas, contendo 25 gramas de PTN e que destas, 60% se convertem em glicose, vai gerar 15gramas de CH . Portanto, o efeito da PTN na glicemia está relacionado ao consumo de mais de uma porção por refeição.

 O uso de álcool, deve ser evitado por causar hipoglicemia. Tem metabolização semelhante a das gorduras. Quando consumido, as calorias fornecidas pelas bebidas alcoólicas estão relacionadas ao teor de álcool das mesmas ( 1grama = 7kcal ) e devem ser computadas no VET. A recomendação da ADA com relação ao álcool, é de duas vezes por semana e nas quantidades: 2 latas de cerveja ( 350ml ); 2 taças de vinho ( 150ml ) e 2 doses de destilado ( 50ml ). Diabéticos em uso de hipoglicemiantes orais se consumirem bebidas alcoólicas, podem apresentar reações como: palpitação, rubor facial e calor.

 A automonitoração do controle glicêmico deve ser incentivada através da mensuração e registros da glicemia pré e pós-prandial ( 2horas) com o objetivo de manter ou modificar o planejamento dietético adotado. A glicemia pós-prandial adequada é de 100 a 140mg/dl.

O exercício físico é recomendado na maioria dos casos e deve estar em consonância com a insulinoterapia.


REFERÊNCIA

KRAUSE, M.V.; MAHAN, L.K. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 9 ed. SP. Roca, 1979

MELLO,V.D.; LAAKSONEN, D.E. Fibras na Dieta: tendências atuais e benefícios à saúde na síndrome metabólica e no diabetes melito tipo 2. Arq. Bras. Endocrinol.Metab. 2009, 53/5.

MONTEIRO, J.B.R. et all. Manual Oficial de Contagem de Carboidratos da Sociedade Brasileira de Diabetes.. Rio de Janeiro, Diagrafic, 2003


Profª Ms Linda Susan de Almeida Araújo- Escola de Nutrição da UFBA, 02/05/10, Salvador/BA

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