A Contagem de Carboidratos-C/CH, surgiu na Europa em 1935 e no Brasil passou a ser utilizada a partir de 1997. É uma ferramenta nutricional que utiliza a quantidade de carboidratos-CH em gramas dos alimentos e a relação entre o tempo gasto pelo organismo na metabolização dos macronutrientes( CH, proteínas-PTN e lipídeos-LIP ) e o nível de glicemia, com o objetivo de otimizar o controle glicêmico dos pacientes diabéticos com menores variações da glicemia pós-prandial.
Considerando que a maioria dos alimentos tem na sua composição macronutrientes e usando a pirâmide alimentar como base para o guia de do planejamento dietético, estabeleceu-se a seguinte C/CH com base na composição dos alimentos e o tempo de conversão gasto pelos macronutrientes em glicose, a saber: CH simples =15 min , CH complexos = 1 a 1,5 horas; PTN, 35 a 60% = 3 a 4 horas; LIP, só 10% são convertidos = 5 horas.
Segundo a Associação Americana de Diabetes-ADA, a recomendação de CH para pacientes diabéticos é de 50 a 60% do Valor Calórico Total-VET, contendo 21 a 30 gramas de fibras. As fibras solúveis ( pectina, beta-glucana, goma) são mais eficientes no controle glicêmico, visto que tem ação na glicemia pós-prandial e está ação também está relacionada com a maturação dos frutos, ou seja, quanto mais maduros, menor a ação das fibras solúveis. As fibras insolúveis ( celulose, hemicelulose e lignina, esta não é fibra mas tem ação orgânica similar) tem ação a longo prazo no controle dos lipídeos sanguíneos ( MELLO, LAAKSONEN,2009).
Na C/CH deve-se deduzir o teor de fibras para obtenção do teor de CH disponível no alimento( ex: alimento com 60gramas de CH e 12gramas de fibras = 48gramas de CH disponível.
A recomendação de PTN = 15 a 20% e de LIP = 30 % do VET, destes 30%, 10% de monosaturados, 10% de polinsaturados e 10% de saturados.
No planejamento dietético considera-se a composição do alimento em relação ao teor de CH e seus equivalentes, considerando que cada porção de amido ou fruta fornece 15 gramas de CH e a porção alimentos do grupo leite fornece 12 gramas de CH ( presença de lactose). Para tanto deve-se pesar ou medir os alimentos, utilizando as informações das embalagens ou as tabelas de referência.
O cálculo do VET pode de acordo com: FAO/OMS,1985 , método prático ( KRAUSE, 1979 ) ou ainda pelo Food and Nutrition Board - FNB ( KRAUSE, 1979 ). Para o cálculo do VET em diabéticos obesos, usar o peso ideal ( redução de 5 a 10% do peso atual ), ou reduzir 500 a 700kcal considerando o peso atual no cálculo. Obeso muito sedentário a redução calórica pode chegar a 1000kcal. Com definição do percentual calórico dos CH, define-se a quantidade em grama de CH, procede-se a C/CH por refeição para obtenção da quantidade de substituições.
Em diabéticos com controle alimentar exclusivo ou em uso de hipoglicemiantes orais, estimular a ingestão das mesmas quantidades de CH/refeição/horário.
Em terapia intensiva com múltiplas doses de insulina ( rápida ou ultra rápida ), as doses para cobrir os gramas de CH são denominados bolos de alimentação e devem ser administrados de acordo com a evolução das glicemias pós-prandiais, considerando para : adulto, 1UI de insulina rápida ( 30min a 1hora antes da refeição) ou ultra-rápida ( 15 min ou imediatamente após a refeição) cobre 15 gramas de CH ou uma substituição; criança e adolescente é 1UI para cada 20 a 30gramas de CH.
Em terapia com bomba de infusão, a C/CH é imperativa devido a precisão da liberação da insulina necessária nas 24 horas.
O fracionamento das refeições é fundamental em terapia convencional e múltiplas doses com insulina NPH pelo risco de hipoglicemia, o que não ocorre em uso de glargina e bomba de infusão.
O uso de açúcar ou doces, deve ser em quantidade igual a 10% dos CH totais e se o controle glicêmico estiver perfeito.
Nos casos de hipoglicemia ( glicemia < 60mg/dl ), recomendar a ingestão de 15gramas de CH simples = 1 colher de sopa de açúcar; 150ml de refrigerante; 150ml de suco de laranja; ou 03 balas de caramelo; verificar a glicemia após 15 min, se for < 70mg/dl repetir a ingestão.
Em relação as PTN: um bife médio de carne bovina magra de 90gramas, contendo 25 gramas de PTN e que destas, 60% se convertem em glicose, vai gerar 15gramas de CH . Portanto, o efeito da PTN na glicemia está relacionado ao consumo de mais de uma porção por refeição.
O uso de álcool, deve ser evitado por causar hipoglicemia. Tem metabolização semelhante a das gorduras. Quando consumido, as calorias fornecidas pelas bebidas alcoólicas estão relacionadas ao teor de álcool das mesmas ( 1grama = 7kcal ) e devem ser computadas no VET. A recomendação da ADA com relação ao álcool, é de duas vezes por semana e nas quantidades: 2 latas de cerveja ( 350ml ); 2 taças de vinho ( 150ml ) e 2 doses de destilado ( 50ml ). Diabéticos em uso de hipoglicemiantes orais se consumirem bebidas alcoólicas, podem apresentar reações como: palpitação, rubor facial e calor.
A automonitoração do controle glicêmico deve ser incentivada através da mensuração e registros da glicemia pré e pós-prandial ( 2horas) com o objetivo de manter ou modificar o planejamento dietético adotado. A glicemia pós-prandial adequada é de 100 a 140mg/dl.
O exercício físico é recomendado na maioria dos casos e deve estar em consonância com a insulinoterapia.
REFERÊNCIA
KRAUSE, M.V.; MAHAN, L.K. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 9 ed. SP. Roca, 1979
MELLO,V.D.; LAAKSONEN, D.E. Fibras na Dieta: tendências atuais e benefícios à saúde na síndrome metabólica e no diabetes melito tipo 2. Arq. Bras. Endocrinol.Metab.
MONTEIRO, J.B.R. et all. Manual Oficial de Contagem de Carboidratos da Sociedade Brasileira de Diabetes.. Rio de Janeiro, Diagrafic, 2003
Profª Ms Linda Susan de Almeida Araújo- Escola de Nutrição da UFBA, 02/05/10, Salvador/BA
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